A farinha é feita de uma planta da família das euforbiáceas

 “Farinha” é um dos clássicos do cantor e compositor de música popular brasileira, Djavan, ilustre alagoano. Por sinal, você já percebeu como essa canção nos permite refletir sobre a alimentação enquanto aspecto cultural? É justamente sobre isso que gostaríamos de discutir nesta matéria. Para tanto, citamos o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, para quem a cozinha se mostrou um meio universal pelo qual a natureza é transformada em cultura (WOODWARD, 2014).

Afinal, os indivíduos geralmente estabelecem com a comida uma relação identitária que lhes permite falar de si mesmos, dos seus lugares no mundo e da sua cultura, o que podemos constatar nos versos de “Farinha”, dentre os quai destacamos: “você não sabe o que é farinha boa, farinha é a que a mãe me manda lá de Alagoas” (DJAVAN, 2001).

Arte/Divulgação: MHN/Ufal.

Se procurarmos o significado de cultura na literatura encontraremos definições falando dos saberes e costumes que rodeiam uma sociedade. De fato, a cultura envolve os hábitos e ensinamentos passados de geração para geração. Quando falamos em alimento pensamos logo em recurso básico para saciar nossa fome e nutrir nosso corpo, mas, a comida ultrapassa essa função e se torna conceito social, ela reúne pessoas, ajuda-nos a demonstrar afeto e transmitir saberes. A comida é símbolo de costumes e valores de uma sociedade e o alcance e forma de aquisição desta comida exerce um papel primordial na formação da cultura de qualquer nação.

A cultura moldou nosso paladar. A forma de se alimentar se torna a identidade de um povo. Sabemos que cada país ou estado possui uma fauna e flora bem específica que depende de características do solo e do clima e ao longo do tempo os povos foram explorando os elementos da natureza para a sua sobrevivência. Assim, foi sendo construída uma identidade alimentar específica para cada região, que passou a integrar a cultura local. Os recursos da natureza estão intimamente ligados aos pratos que cada povo consome, tornando esses recursos parte dos saberes culturais dessa sociedade.

Aqui, no Brasil, temos a mandioca, também conhecida como macaxeira ou aipim, dependendo da região, como parte da nossa cultura. Trata-se de um alimento implementado pelos povos indígenas e consumido em todo o país. A cultura alimentar manifesta a singularidade de cada sociedade ao longo do tempo e está diretamente ligada à construção histórica de cada nação.

Nossos pratos culinários, por exemplo, reúnem uma mistura de características culturais de vários povos, tendo fortes traços alimentares da junção de preparos indígenas, africanos e portugueses. A construção do nosso paladar veio do tempo antigo, dos saberes dos nativos, das misturas de ingredientes no fogão de barro. Essa interculturalidade tornou a culinária brasileira única. No nordeste, temos a nossa macaxeira que produz a farinha típica do prato do nordestino, temos a fubá que prepara o cuscuz de cada dia e não podemos esquecer nossa charque que serve de tempero no feijão e de mistura nas refeições, compondo com a macaxeira pratos saborosos como o escondidinho.

Esses são apenas alguns exemplos da tradição e dos saberes da região nordeste do Brasil, trazidas de geração em geração até a mesa de nossos dias, que nos mostram como as raízes da macaxeira formam sustentáculos de nossa cultura alimentar. Quer dizer, cultura, natureza e alimentação estão diretamente ligados por meio de uma relação construída ao longo do tempo pela sociedade em interação com o meio ambiente.

Serviço

Se você quiser ouvir a canção “Farinha”, de Djavan, ela pode ser facilmente encontrada no Youtube. E se desejar conhecer diversos pratos da culinária brasileira que levam macaxeira entre os seus ingredientes, indicamos o jogo da memória virtual que criamos.

Atenção! O jogo em questão foi criado na plataforma Flippity.net que, recentemente, tem sofrido indevidamente com parâmetros de segurança que o Google tem imposto aos seus links. Por isso, caso ocorra algum erro ao tentar abrir o endereço eletrônico acima, sugerimos usá-lo em uma guia de navegação anônima, o que normalmente contorna esse pequeno transtorno. Gratidão!

Referências

DJAVAN. Farinha. In: DJAVAN. Milagreiro. Rio de Janeiro: Sony Music Entertainment Brasil, 2001. 1 disco sonoro (49’23). Faixa 1 (3’37).

WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T. T.; HALL, S.; WOODWARD, K. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 7-72.

2.4 Jogo da Memória “Macaxeira”: disponível em <https://bit.ly/3AO6Gar>.

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