Projeto ajuda a recuperar florestas do Baixo São Francisco

Pedro Barros - estudante de jornalismo

Nos dias 11 e 12 de junho, a equipe do Centro de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas (Crad) do Baixo São Francisco realizou um plantio de 600 mudas para recuperar uma Área de Preservação Permanente (APP)* próxima ao rio Itiúba, em Porto Real do Colégio. Também foram doadas 200 mudas de Ouricuri, uma espécie de palmeira típica da região nordeste, para índios da tribo Kariri-Xocó. Todas elas foram produzidas no Arboretum do campus A. C. Simões.

A atividade provém de uma parceria da Ufal, por meio do Museu de História Natural (MHN), do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) e do campus de Arapiraca, com a Universidade Federal de Sergipe (UFS). Sua implantação na região faz parte das ações do Plano de Desenvolvimento Florestal Sustentável da Bacia do Rio São Francisco (PDF-São Francisco), sob responsabilidade do Programa Nacional de Florestas (PNF), com colaboração da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Na Bacia do Rio São Francisco, existem mais seis centros de referência ativos além do Ufal/UFS.

Estagiários do Crad plantam mudas em Porto Real do Colégio. Foto: Ulysses Cortez.
Segundo a Profª. Drª. Flávia de Barros Prado Moura, coordenadora do Crad/Ufal e do Setor de Ecologia do MHN/Ufala caatinga de alagoana já perdeu mais de 90% de sua cobertura original. "O que resta está localizado em lugares de difícil acesso, como encostas de morro, e a maior parte é área secundaria, isto é, que já foi cortada ou queimada, mas regenerou", afirma.

Um dos grandes problemas da devastação arbórea é o risco de desertificação. "A gente tem aqui em Alagoas áreas em que o solo é muito arenoso e raso, e embaixo deles há rochas cristalinas, muito duras. Quando essa vegetação de Caatinga é removida e vem as chuvas (e as chuvas ali são normalmente torrenciais, muito fortes), acontece um processo acentuado de erosão. Vai acabar ficando só a rocha e não vai ter como recompor essas áreas", explica. "A corrida para recuperá-las é algo emergencial, ou fazemos isso agora ou vamos perder grande parte do território alagoano por conta da desertificação".

Conforme a pesquisadora, os centros de referência visam solucionar o problema da falta de modelos de reflorestamento. "Como é que a gente faz para recuperar uma área de restinga? Que técnicas se vai utilizar? Por exemplo, no semiárido, com solo arenoso: Que tipo de planta deve ser plantada? Que tipo de substrato deve ser usado? Quanto se deve plantar? Tudo isso ainda está muito pouco conhecido. Aí foram criados os centros de referência, para que se fizessem pesquisas sobre o que era mais adequado para cada situação", explica. "Essas respostas vão mapear políticas e programas futuros de recuperação de áreas degradadas". As mudas plantadas em Porto Real do Colégio, por exemplo, serão acompanhadas mensalmente para avaliar a taxa de sobrevivência e o crescimento.
   
Mudas de plantas comuns da Caatinga. Foto: Ulysses Cortez.


Além de servir como base de dados, os Crad's são um meio de capacitação para profissionais que desejam trabalhar com a restauração de florestas. O estudante de biologia e estagiário voluntário do Crad/Ufal, Renato Vanderlei, diz ficar honrado em poder participar desse projeto. "Conseguir recuperar uma área depois de anos de degradação, principalmente do bioma Caatinga, único e exclusivo do Brasil, é fantástico", testemunha. "Plantar, reflorestar, são trabalhos divinos. É um contato singular com a natureza. Poder acompanhar uma planta desde seu plantio até seu desenvolvimento é literalmente mágico".

Aliado ao trabalho de recuperação ambiental, a equipe do Crad/Ufal também produz mudas da palmeira Ouricuri para geração de renda das populações nativas. "Usar as florestas não é nenhum crime. Crime é usá-las de maneira que não seja sustentável", salienta a Prof. Flávia. "Um outro projeto é esse que a gente está fazendo com os índios Kariri-Xocó, para recuperar as matas nativas da aldeia". Segundo a professora, a tribo é bastante receptiva ao trabalho: eles desejam recuperar uma mata que consideram sagrada.

Os próprios interessados podem cadastrar áreas que desejam reflorestar em sua propriedadePara isso, só é necessário acessar o site e procurar a guia "CADASTRO". Conforme a coordenadora do projeto há uma lista de espera e, assim que for possível, a equipe do Crad irá desenvolver plantios experimentais no local.

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