Pandemia & Biodiversidade: uma coisa tem a ver com a outra?
Sim,
e neste texto contamos como. Mas antes, permitam-nos mencionar que este
conteúdo foi produzido por estudantes do curso de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Alagoas que estão realizando um dos seus estágios aqui
no Museu de História Natural. Esse é o primeiro conteúdo de uma série em que
eles vão discutir conosco pelo menos outros dois temas que dialogam com as
nossas atividades. Pois bem, feitas as honras da casa, vamos ao texto!
Quando
falamos em biodiversidade não devíamos ignorar que a diversidade de seres vivos
que o conceito busca expressar nos inclui, os humanos, enquanto seres que se
relacionam com a natureza e atribuem múltiplos significados a ela. Um desses
sentidos, que precisamos superar, ressaltamos, é uma visão de que a natureza e
a sua biodiversidade são meramente fontes de recursos naturais que servem para
atender as nossas necessidades básicas, como a alimentação, e outras um tanto
quanto supérfluas, como a última roupa da moda, feita de... Algodão. São apenas
exemplos, longe de nós pretendermos esgotar o tema.
A
intenção é começar ampliando a nossa compreensão acerca de que a nossa relação
com a biodiversidade se dá em diferentes vias e por diversas formas, dentre as
quais, por sinal, gostaríamos de destacar certos hábitos alimentares, pois o
surgimento da Covid-19 tem a ver com isso. Nesse sentido, ocorre-nos que para o
antropólogo social Claude Lévi-Strauss “a cozinha é o meio universal pelo qual
a natureza é transformada em cultura” (WOODWARD, 2014, p. 43).
Sabe-se que o surgimento de certas doenças está estreitamente correlacionado com a comercialização e consumo de animais silvestres (HARTMANN et al., 2021), de modo que essas práticas culturais podem representar um grande risco de infecção zoonótica como no caso da Covid-19 (CORLETT et al., 2020, PEIRÓ, 2020). No Brasil, o consumo de tatus já foi associado a doenças como a lepra e a leishmaniose (ANTUNES, 2020) e uma doença respiratória conhecida como “influenza equina”, causada pelos vírus H7N7 e H3N8, já foi identificada em capivaras (NOGUEIRA; CRUZ, 2007).
Por
outro lado, estamos somente começando a entender a relação entre a pandemia
causada pelo novo coronavírus e a biodiversidade. Ainda não é possível, por
exemplo, responder como a pandemia está afetando a biodiversidade agora, mas estudos
indicam que a conservação de animais em vulnerabilidade ainda está sendo
realizada nesse período difícil e que está sendo possível observar que o
declínio das atividades humanas em decorrência do isolamento, das restrições de
viagens e do fechamento de parques reduziu o estresse sobre animais selvagens.
Por
fim, concluímos reforçando que devemos levar em consideração os perigos que a
comercialização e o consumo de animais silvestres representam para a saúde
humana, valendo lembrar que não apenas o consumo de animais infectados pode
ocasionar doenças, mas também a negligência sanitária comumente encontrada em
sua comercialização ilegal.
Referências
ANTUNES, J.
M. P. Tatus são responsáveis por inúmeros casos de lepra no Brasil:
animal é considerado um repositório de doenças que podem ser transmitidas ao
homem. 13 fev. 2020. Brasília: EBC, 2020. Disponível em: https://radios.ebc.com.br/brasil-rural/2020/02/tatus-sao-responsaveis-por-inumeros-casos-de-lepra-no-brasil.
Acesso em: 16 abr. 2021. Entrevista concedida à rádio Nacional.
CORLETT, R. T. et
al. Impacts of the coronavírus pandemic on biodiversity conservation. Biological
conservation, v. 246, p. 108571, 2020.
HARTMANN, G. et
al. Consumo de carnes de animais exóticos. Clínica Veterinária, 8
set. 2020. Disponível em: https://revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/consumo-carnes-animais-exoticos-148/.
Acesso em: 16 abr. 2021.
NOGUEIRA, M. F.;
CRUZ, T. F. da. Doenças da capivara. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2007.
PEIRÓ. P. Humanos
que comem animais selvagens sem controle, um barril de pólvora para a saúde
mundial. El País, 6 mar. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/planeta_futuro/2020-03-06/humanos-que-comem-animais-selvagens-sem-controle-um-barril-de-polvora-para-a-saude-mundial.html.
Acesso em: 16 abr. 2021.
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T. T.; HALL, S.; WOODWARD, K. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 7-72.
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