Será que durante a pandemia as outras doenças tiraram férias?


     Neste texto vamos dar continuidade à série de conteúdos produzidos por estudantes do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alagoas, que estão realizando um dos seus estágios aqui no Museu de História Natural. Esse é o segundo conteúdo, de uma série de três, que dialoga com os nossos interesses e atividades. Feita a apresentação, vamos ao texto.

    Além do enfrentamento da atual pandemia, a falta de controle de um velho conhecido nosso, o mosquito Aedes aegypti, contribui para a incidência de dengue, chikungunya e zika no Brasil, principalmente no período de março a junho. Dessa forma, foi observado que os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), que já apresentavam deficiências no atendimento para diversas doenças, tiveram que se readaptar durante esse período para enfrentar e suprir as demandas encontradas (MASCARENHAS et al, 2020).

    Com isso, surge uma imensa preocupação com doenças que chamamos de DOENÇAS NEGLIGENCIADAS, que apresentam maior impacto em comunidades mais pobres e marginalizadas e que justamente por isso recebem poucos investimentos da indústria farmacêutica em termos de desenvolvimento de tratamentos eficazes e vacinas. Algumas doenças tropicais como a malária, a doença de Chagas, a leishmaniose visceral e a dengue continuam sendo algumas das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo (VALVERDE, 2013).

    Em tempos de pandemia, onde os hospitais se encontram sobrecarregados, é necessário redobrar os cuidados necessários para evitar a prevalência dessas doenças. Segundo o Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, no ano de 2020 foram notificados mais de 987 mil casos de dengue no país. O número total foi relativamente menor que o registrado em 2019, com mais de 1,5 milhão. No entanto, é provável que tenham ocorrido casos não notificados, em razão das medidas de isolamento na atual pandemia (SILVA et al, 2020; BRASIL, 2021). Já sobre os dados referentes ao corrente ano, até o dia 17 de abril, já contávamos com 205.169 casos prováveis e 53 óbitos (BRASIL, 2021) .

    Os índices de infecção por Chikungunya também têm aumentado consideravelmente, principalmente no estado da Bahia, onde ocorreu um aumento de 439% entre os anos 2019 e 2020 com 23 mil casos de infecção, passando os períodos entre 2018 e 2019, que tinham 4 mil casos registrados. O Brasil apresenta um dos maiores registros epidemiológicos da doença, com um foco maior de casos no período de junho, que é considerado a época chuvosa. Ao pegarmos os dados deste ano, vemos uma redução significativa no número de casos no país, girando em cerca de 20,5% a menos comparado ao mesmo período do ano passado, apresentando 18.788 casos prováveis (BRASIL, 2021). Apesar de ser uma doença limitada e de baixa taxa de mortalidade, pessoas com problemas de saúde como Artrite reumatoide, que atinge geralmente pessoas idosas, devem ter um cuidado maior, pois a doença causa inflamação nas articulações (SECRETARIA, 2020).

    O zika vírus, assim como as demais doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, teve uma variação muito grande com relação ao número de casos notificados, apresentando 1.027 casos prováveis, uma redução de 56,1%, havendo uma possível subnotificação assim como as demais (BRASIL, 2021). Sendo assim, a conscientização da população, principalmente em tempos de pandemia do COVID-19, pela prevenção da multiplicação do vetor deve ser reforçada, mostrando os métodos de combate ao causador da doença.

    Em relação aos sintomas, podemos dizer que todas as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti apresentam manifestações clínicas semelhantes. Os sintomas mais comuns dessas doenças são (HOFFMANN, 2020; FIOCRUZ, 2020a, 2020b):

- Febre alta, de 39 a 40 graus (Dengue e Chikungunya);
- Febre leve ou ausente (Zika);
- Dor de cabeça, especialmente atrás dos olhos (Dengue);
- Dores intensas no corpo, músculos e nas articulações (Dengue e Chikungunya);
- Dores menos intensas no corpo, músculos e articulações, olhos vermelhos e aversão à luz (Zika);
- Náusea e vômito (Dengue, Chikungunya e Zika);
- Manchas vermelhas pelo corpo (Dengue, Chikungunya e Zika).

    Os sintomas possuem duração média de 10 dias, porém, o indivíduo pode apresentar fraqueza e mal-estar por muito mais tempo.

    Uma das medidas escolhidas para o combate do vetor é o fumacê, porém, mesmo sendo uma medida bastante cobrada pela população, pode provocar consequências adversas, como intoxicações e, a longo prazo, o desenvolvimento de câncer e outras doenças.  Além disso, o fumacê é constante alvo de divergência entre pesquisadores e possui baixa eficácia na ação de combate ao vetor (ORTIZ, 2019).


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, H. da, et al. Saúde do idoso em tempos de pandemia Covid-19. Cogitare enfermagem, v. 25, 2020.

BORGES, K. N. G. et al. O impacto da pandemia de COVID-19 em indivíduos com doenças crônicas e a sua correlação com o acesso a serviços de saúde. REVISTA CIENTÍFICA DA ESCOLA ESTADUAL DE SAÚDE PÚBLICA DE GOIÁS" C NDIDO SANTIAGO", v. 6, n. 3, 2020.

BRASIL, República Federativa do. Boletim Epidemiológico: Monitoramento dos casos de arboviroses urbanas causados por vírus transmitidos pelo mosquito Aedes (dengue, chikungunya e zika), semanas epidemiológicas 1 a 15, 2021. Secretaria de Vigilância em Saúde, v. 52, n. 15, p. 17-21, 2021. Disponível em: < https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/abril/26/boletim_epidemiologico_svs_dia-mundial-da-malaria.pdf >. Acesso em: 28 abr. 2021.

FIOCRUZ, Fundação Oswaldo Cruz. Chikungunya: sintomas, transmissão e prevenção. 2020a. Disponível em: < https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/chikungunya-sintomas-transmissao-e-prevencao#:~:text=A%20transmiss%C3%A3o%20do%20v%C3%ADrus%20chikungunya,pode%20ser%20por%20Aedes%20albopictus >. Acesso em: 26 abr. 2021.

FIOCRUZ, Fundação Oswaldo Cruz. Zika: sintomas, transmissão e prevenção. 2020b. Disponível em: < https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/zika-sintomas-transmissao-e-prevencao >. Acesso em: 26 abr. 2021.

HOFFMANN, J. Conheça 7 fatos sobre a dengue que vão te surpreender. Blog Desinservice, 2020. Disponível em: < https://desinservice.com.br/blog/fatos-sobre-a-dengue/ >. Acesso em: 26 abr. 2021.

MASCARENHAS, M. et al . Ocorrência simultânea de COVID-19 e dengue: o que os dados revelam?. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro,  v. 36, n. 6,  e00126520,    2020 .   Available from < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2020000600501&lng=en&nrm=iso >. access on  26  Apr.  2021.  Epub June 17, 2020.  https://doi.org/10.1590/0102-311x00126520.

ORTIZ, B. Fumacê é considerado medida de baixa eficácia contra dengue, diz especialista. Portal do G1, Distrito Federal, 17 de junho de 2019. Disponível em: < https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/06/17/fumace-e-considerado-medida-de-baixa-eficacia-contra-dengue-diz-especialista.ghtml > Acesso em: 26 abr. 2021.

SECRETARIA de Saúde da Bahia. Casos de chikungunya crescem 434% na Bahia entre 2019 e 2020. Sesab, 2020. Disponível em: < http://www.saude.ba.gov.br/2020/07/06/’/ >. Acesso em: 27 abr. 2021.

SILVA, J. F. da, et al. Vigilância epidemiológica dos casos e da incidência da dengue no litoral paranaense durante pandemia de COVID-19. Saúde e meio ambiente: revista interdisciplinar, [S. l.], v. 9, n. Supl.1, p. 105–106, 2020. DOI: 10.24302/sma.v9iSupl.1.3378. Disponível em: < https://www.periodicos.unc.br/index.php/sma/article/view/3378 >. Acesso em: 26 abr. 2021.

VALVERDE, R. Doenças Negligenciadas. Agência Fiocruz de Saúde, 2 ago. 2013. Disponível em: < https://agencia.fiocruz.br/doen%C3%A7as-negligenciadas >. Acesso em: 26 abr. 2021.

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